“Não é normal, mas jogar água fria em sem-teto também não é”, diz Ciro Gomes sobre ovada em Doria

  • Por Jovem Pan
  • 09/08/2017 14h43
Johnny Drum/Jovem Pan

Em entrevista exclusiva ao programa Pânico no Rádio, o vice-presidente do PDT, e pré-candidato “semiassumido” para disputar a presidência da República, Ciro Gomes, não poupou críticas ao prefeito de São Paulo, João Doria após o episódio da ovada em Salvador nesta semana.

“Ovada é uma coisa boba que aconteceu. Não é normal, mas não é normal também jogar água fria em sem-teto, jogar flor que lhe deram na rua, internar violentamente pessoas com dependência química. Mas também não é normal e nem civilizado jogar ovo”, disse.

Para o pedetista, a posição do tucano como prefeito de São Paulo aperfeiçoa a “tragédia brasileira”. “Ele é um político que não tem nada na cabeça e lê pesquisas com assessoria de marquetagem comercial. O que o marqueteiro está dizendo é que está todo mundo puto com políticos, então ele é o não político. Todo mundo quer alguém que resolva os problemas, então ele é o gestor. Todo mundo está zangado com a esculhambação do PT, então ele é o anti-PT. Isso não resolve nada”, criticou.

Sem querer adotar um tom de polêmica, Ciro Gomes ainda citou Jair Bolsonaro, deputado federal pelo PSC, que é um dos nomes para a disputa pela cadeira de presidente da República. “Há um voto que faz o ‘pit-stop’ nas pesquisas você tem um voto que o eleitor não vai votar naquele, mas na catarse ele precisa… Jair Bolsonaro. Não quero desqualificá-lo, mas aquela coisa é um voto de pit-stop. Eu vou dizer ‘esse merda não acredita em nada e eu preciso resolver essa parada da violência e tem um cara ali que resolve’. Sob o ponto de moralismo, esse é o Collor”, disse.

Para Ciro Gomes, há razões para Bolsonaro ser “querido” por parte de eleitores. “É a simplificação com que ele toscamente responde aos questionamentos da sociedade sobre segurança e corrupção. Mas isso não se faz com frases prontas. Por que ele não vai ser prefeito do Rio de Janeiro para entender que não é simples? Porque se ele chega na Presidência com frases como ‘bandido bom é bandido morto’, não dá. É mentira e despreparo. No caso dele é mentira. Moralista de goela. Estou defendendo ele, mas é ridículo isso”.

Em um viés mais de centro-esquerda, Ciro Gomes evitou costurar sua imagem junto ao PT, mas defendeu o discurso de que o impeachment de Dilma Rousseff foi golpe. “Falar mal do Governo da Dilma é covardia, porque é um Governo desastrado. O Governo estava podre. Foi golpe, porque crime de responsabilidade tem que se provar. A Dilma se deixou imolar porque não é do ramo. Aceitar um impeachment sem fundamento e com esses canalhas julgando [deputados e senadores] é só para quem não é do ramo”, afirmou.

“O impeachment é um processo jurídico-político. A base há de ser jurídica. Ela pedalou, mas isso não é crime de responsabilidade. Ela vinha fazendo um mal Governo. Eu sou aliado e estava dizendo. Esculhambei mil coisas erradas que ela fez. Ela estava mentindo para se reeleger. Mas juridicamente há de se cometer crime de responsabilidade dolosamente. No caso da pedalada não passa na cabeça de ninguém que seja juridicamente. Todos os presidentes fizeram. Aqui em São Paulo se faz todo dia. Não houve base de fasto, mas vamos supor que a pedalada fosse em si crime. Não há elemento de dolo”, explicou.

Mas o vice-presidente do PDT quis deixar claro que o Brasil precisa discutir o futuro e parar com a “falsa divisão entre coxinhas e mortadelas”. Para ele, “se formos transformar o embate que temos hoje no ódio ou paixão ao redor do Lula, o que temos hoje com esse ódio é que o Brasil não sai de onde está”.

Ao falar sobre sua participação na fundação o PSDB, Ciro Gomes foi categórico: “saímos do PMDB para fundar o glorioso PSDB, só príncipe, tudo gente limpa, eu entro nessa, ajudei a fundar. Aí vem o Fernando Henrique [Cardoso] e se agarra com o que há de mais ruim, o que não presta. Sabe quem era ministro dele? O Eliseu ‘Quadrilha’ [trocadilho com o sobrenome de Eliseu Padilha]. Aí eu ficaria no PSDB? Fui-me embora!”.

Sobre uma polêmica na qual se viu inserido, Ciro Gomes classificou como “fake news” uma suposta fala atribuída a ele de que chamou o prefeito de São Paulo, João Doria, de ‘veado’. Nunca tiveram estudantes da USP. Eu fui a um evento onde estava só a nossa turma, deram-me a palavra, falei e fui embora. Zero acontecimento. Depois vejo na internet que ‘estudante da USP diz que Ciro Gomes chamou Doria de veado e que ia comer o c* dele com areia’. Eu sou meio duro, mas sou um cara letrado. Minhas expressões não são assim”, disse arrancando risos da bancada do programa.

Em relação aos últimos acontecimentos que moveram a política nos meses anteriores, Ciro evitou se estender, mas defendeu a Operação Lava Jato e admitiu que estão ocorrendo erros que podem destruí-la daqui um tempo. “Quando o camarada faz condução antes de ser chamado para comparecer, é arbitrariedade. Liberar ligação ilegal com presidente é crime”, disse.

No caso do ex-presidente Lula, que foi condenado pelo juiz Sérgio Moro, Ciro Gomes foi direto: “ninguém está fora do alcance da Justiça, mas a sentença é fraca, a prova é fraca”. O mesmo ele disse sobre a denúncia de Rodrigo Janot, procurador-geral da República, contra o presidente Temer: “é fraca também, mas é tudo verdade. Eu sei que Temer é chefe de quadrilha há muitos anos”.

Sem se candidatar oficialmente como nome para a corrida presidencial, Ciro Gomes apenas ressaltou que, caso fosse eleito, não iria ao Palácio do Planalto para brincar. Mas ele ponderou: “ninguém chega como favorito”.

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